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23 de julho de 2014

Estado laico

        Já é hora de admitirmos que vivemos e que só sobrevivemos a algumas intempéries graças às buscas que fazemos na tentativa de encontrarmos outras explicações para os fatos, situações, desafios ou necessidades que fomos descobrindo em nossos mais variados habitat. Ficou evidente que algumas das soluções de nossos antepassados se mostraram improváveis, após um exame mais rigoroso da realidade. Se você quer permanecer neste estado de medo e de ignorância, a escolha é sua, mas, se pretende continuar reproduzindo estas ideias num ambiente onde se deve prezar pelo debate destes e também de outros tipos de saberes acumulados, evitando, deste jeito, o choque de ideias e/ou ideologias conflitantes, o problema é nosso! Felizmente todo ser humano tem hoje resguardado o direito de entender o que aconteceu e o que está acontecendo para, conhecendo os fatos e os argumentos a ele associados, instrumentalizarem-se e assumirem assim as posições que quiserem. Sem interferirem ou cercearem a liberdade de ninguém. Portanto, acredite se quiser, mas faça seus cultos nos lugares a eles destinados e não nos importune se, explicando teorias e métodos, equívocos ou correções de superstições e preconceitos anteriormente vistos como fatos, por serem revelados por alguma divindade, estamos fazendo nosso trabalho! Não. Você não pode cometer esse desrespeito, obrigando-os a rezar esta oração que nunca foi universal. Não. Você não pode os coagir a seguir suas crenças, reverenciando esta santa que para muitos de nós não têm o mesmo significado. Já que a consciência não basta, existem leis que garantem estes direitos a cada um de escolher, praticar, trocar e até de abandonar as religiões em que fomos socializados. Entenda: a SUA religião não é a única praticada, o SEU direito de expressar-se não é o único a ser respeitado, e, assim como todas as religiões que existem e que já existiram são patrimônios históricos da humanidade, as teorias científicas, as problematizações filosóficas e as artes também o são. Então, por que valorizar só o religioso, se o científico, o filosófico, o artístico, etc., são igualmente importantes criações de nossa espécie ao longo de sua aprendizagem? Não quero dizer que estes homens e mulheres, céticos ou dogmáticos, não cometam falhas, nem que estas atividades não foram e ainda são usadas para alcançar medíocres finalidades. Não estou querendo colocá-las acima da crítica, pois se assim o fosse, nenhuma representação haveria, mas somente métodos infalíveis para pensar e intervir numa realidade imutável. Fantasmas, novamente, rolando os dados... Reivindico um direito que, a duras penas, fora conquistado, após todas as tentativas que fizeram e ainda fazem para aniquilá-lo. Queimando, excomungando, assassinando, destruindo ou escondendo, sabotando, enfim, os registros de nossa história, sobretudo com o apoio dos templos e dos sacerdotes que afirmam serem da mais pura santidade. Pergunto: o que estes seres abençoados – que vivem muito bem obrigado devido aos fiéis que sustentam estas instituições, características por concentram cada vez mais propriedades graças aos impostos outrora cobrados e ao dízimo agora arrecadado, e que não se dispõem a doá-los como pregam que se faça – tanto temem, se o que querem é a paz, a igualdade e a humildade?! Será que há realmente esta vontade? Será que, desse modo, há a possibilidade de alcançarmos a tão falada dignidade? Caridade é o que fazem, mas isto nunca vai resolver nossos problemas estruturais; vai apenas mantê-los, fingindo estar se fazendo de tudo o que está ao seu alcance para solucioná-los. Precisamos saber, questionar, pensar sobre o que parece tão claro, usar nossos sentidos e nossas racionalidades para mudar alguns hábitos enraizados e isso talvez incomode àqueles e àquelas que, levando ou não alguma vantagem com a justificação das desigualdades, acreditam cegamente nas tradições que afirmam estarmos no mundo apenas para nos salvarmos ou sermos eternamente castigados. Por isso – mesmo que você não queira – o Estado é LA-I-CO!!! Não deve haver cultos ou rituais dentro das instituições de ensino públicas, pois, fazendo-se isto, não há sequer vestígio de liberdade democrática. E não será com esta o nosso compromisso enquanto educadores responsáveis?! Além do mais, existe a possibilidade de estudando, ensinando e aprendendo, problematizarmos, investigarmos, refletirmos crítica e criativamente sobre as manifestações culturais, e reconhecermos que cada povo, dentro de cada contexto e segundo suas próprias e igualmente louváveis possibilidades e necessidades, criou e continua a criar suas próprias formas de expressarem suas religiosidades. Seus ritos, suas preces, seus diversos rituais, assim como suas divindades, de acordo com suas especificidades, e não o seu contrário.

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