Composição que vai começando
Assim sem tema, alma, admiração ou
espanto
Apenas pelo prazer de ir se
reinventando
Ouvindo músicas
Escrevinhando
Procurando por palavras que aos
poucos foram significando
Relembrando de nossos encontros,
acrescentando
Bebericando uma cerveja
Fumando
Enquanto muitos dormem
Talvez descansem
Para um novo dia que já vai se
mostrando
Folha em branco
Calhamaços de arquivos que vou
guardando
Idolatrias e prantos
Adultos e crianças
Triturando
Amassando
Dando forma a um conteúdo que
sequer ficará pronto
Trágico fim para uma mistura que
não deu ponto
Tráfego que vigora
Minutos de fúria em que mais
algumas vidas se vão
Como formas nas paredes
Sombras que projetamos
Nas calçadas, ruas, muros e
certezas que ultrapassamos
Folha em branco
Colorida por um ponto
Fracionamos todos os códigos de
honra
Vagamos por dias e noites
Só por não termos com quem
brincarmos de investigadores
Procurando por nossas peças que
vão repentinamente chispando
Encontramos tabuleiros carcomidos
Tanto jogamos que agora nossos
dedos são aqueles que respondem
Nossos pulmões expelem a poeira
Mas a sujeira não deixa de estar
presente em qualquer canto
Se lhe contasse uma fábula agora
Com todos os detalhes de um fato
cotidiano
Você veria quais tentativas em meu
sonho?