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14 de maio de 2011

Implícito


   É estranho quando você entende aquilo que sente. É estranho quando você sente aquilo que pensa. Não como a maioria das vezes em que você apenas acha que entende. Ou que apenas sente que sabe. Que pode. Deve. E que consegue. Não há vaidade. Não há obrigação. Há apenas necessidade sendo tolerada. Assumida. Compartilhada. Sem virtude. Ou qualquer tipo de recompensa. O simples. O imediato. A primeira impressão. Logo lhe convence. Você consente. Os valores que você tem fazem sentido. Sem ameaças. Compreendem seus instintos. Você renasce. Abraça por inteiro. Age. Não mente. Satisfaz-se sem mistério. É tão estranho que, como não estamos habituados a nos importar, desejamos fugir. Voltar, de qualquer maneira, para o mundo conhecido. Você vê o impossível sendo dito. Debatido. E todos os opositores se calam diante do que lhes é sugerido. Cedem. Não porque foram invadidos. Atacados e abatidos. Mas porque acreditam que esse é o caminho. É realmente estranho. Você não hesita. Pela primeira vez. Acredita. Sem reforços ou justificativas. Sem medo. Você caminha. Sabendo que tudo isso pode e vai acabar. A qualquer hora do seu dia. Em que o telefone tocar e você for chamado a participar. A abandonar. Retomar a certeza da convivência que lhe faz parecer um especialista. Mostrar-se feliz por estar vivo sem ninguém ali contigo. No meio da multidão impassível. Que só lhe enxerga como mais uma experiência. Bem ou mal sucedida. Para que seu orgulho seja reconhecido. E seu sofrimento seja redimido. Com glória. Por todos os seus amigos. Aqueles mesmos que não medirão esforços para afastar qualquer evidência que lhe contradiga. E você seja posto, mais uma fez, num lugar privado. Bem longe do perigo. Da loucura de demonstrar carinho. De todas as formas que forem lhe aparecendo. Nos escassos momentos em que você não estiver só consigo. Negando a luta. Para que assim você consiga praticar. Fazer todas essas escolhas inconscientemente impelido pelo ódio e pelo desejo de vingança implícito.

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