gostam do ser poeta
pelos seus textos
cumprimentam-se uns aos outros
contemplam suas rotinas
intrometem-se em suas próprias conversas.
gostam do ser poeta
pelos seus textos
cumprimentam-se uns aos outros
contemplam suas rotinas
intrometem-se em suas próprias conversas.
não estranha que eles estejam
no limite da loucura para ser o vencedor
compreensível que nesse tempo
se enovelem
no limite da vida
no limite da arte
da morte como parte de algo
que precisa de algum valor
não estranha que eles se encontrem
no limite da procura por escapar do desespero
como recompensa por seu incansável furor
compreensível que nesse tempo
permaneçam unidos
no limite do ideal da realidade torpor
usando suas navalhas afiadas
para acionar seu envenenado motor.
mergulho no texto
entre
braçadas e pernadas
vou imergindo e emergindo
continuo aceso.
aqui estou eu com fome
e você aí circulando
enquanto faz seu pedido
dentro de mim já está o teu sangue.
sim, há dor
dor que não sabemos de onde vem
dor que nos impulsiona a viver
nos mexer
criar embaralhar esconder
a continuação do nosso morrer.
olhos abertos
respiração ofegante
suor frio
sangue coagulante
nervos periféricos
transportando sensações
paisagem horrorizante
sente
e pensa
pensa
exangue
ossos
e carne
carne
e matambre
tentando
querendo
procurando
novas dinâmicas
entre hábitos e costumes
normas e leis
padrão itinerante.
um poeta
me vendeu o seu livro
faltando algumas páginas
quando fui ler
descobri que não se tratava
de um simples erro de impressão
uma confusão
durante o processo
de encadernação
ele mesmo se desmembrava
a cada estrofe
que escavou.
um conceito
vai se formando
textos título capa
formato dedicatória fontes
ilustrações citação contracapa
aos poucos vão se juntando
quando me assanho
a preparar um novo livro
começo a sacolejar nessa órbita
vivencio a façanha
de me expor e não me importar
com os adjetivos que ambos ganhamos.
minhas fragilidades
eu compenso
num ricto
com as necessidades
não lamento
vou seguindo
sentindo e fazendo
hesitando e querendo
sentido em tudo
onde por sorte
nem tudo se faz
só com a gente.
“Se tu, que tens tudo o que os outros precisam ter, puderes compreender isso, saberás também defender-te. Se tu souberes separar causas de efeitos, se tu souberes que Paine, Marx, Jefferson, Lenin foram efeitos e não causas, sobreviverás. Mas tu não poderás compreender. Pois que a qualidade da posse cristalizou-se para sempre na fórmula do ‘eu’ e sempre te isolarás do ‘nós’”.
esta é uma casa
que parece que conheço
são tantos os detalhes
que agora quase não me esqueço
eu me lembro
já tive essa sensação
familiar e pitoresca
de ver algo assim
fundante e liberto do cabresto.