É
claro que é necessário não nos escravizarmos com nossas vaidades.
Não nos imaginarmos unicamente como seres repletos de vontades, de
desejos, transbordantes de originalidade. Mas daí a tranferirmos
toda nossa existência para um plano sobrenatural, julgando-nos
imortais, não seria cair na mesma armadilha nefasta? Como existir
senão através de um corpo que vivencia partes da realidade,
extraindo suas compreensões – enquanto ainda tem vida –
tentando conectá-las? Como esquecermos de nós mesmos pode ser algo
construtivo, se nós também somos partes?! Que espécies de
sentimentos, de consciências, de liberdades, que conceitos de
discernimento, humanidade ou de dignidade podem resultar, quando só
nos resta a opção de obedecer, pedir auxílio e esperar? É claro
que essa falsa segurança – essas tutelas espirituais ou materiais,
idealizadas para apaziguar nossos medos, receios e anseios, frente ao
que desconhecemos – pouco poder tem frente aos nossos riscos e
incertezas viscerais. Chega a hora em que a hesitação, as decisões,
os contratempos entre nossos erros e acertos, nos lembram de nossa
proximidade com os nossos ancestrais. Desesperados, abandonaremos
nossa animalidade na vã tentativa de demonstrarmos nosso sucesso,
nosso status – como se apenas assim conseguiremos o mérito
necessário para melhor nos venerarmos?!
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