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29 de junho de 2016

“Vence quem se vence”

    É claro que é necessário não nos escravizarmos com nossas vaidades. Não nos imaginarmos unicamente como seres repletos de vontades, de desejos, transbordantes de originalidade. Mas daí a tranferirmos toda nossa existência para um plano sobrenatural, julgando-nos imortais, não seria cair na mesma armadilha nefasta? Como existir senão através de um corpo que vivencia partes da realidade, extraindo suas compreensões – enquanto ainda tem vida – tentando conectá-las? Como esquecermos de nós mesmos pode ser algo construtivo, se nós também somos partes?! Que espécies de sentimentos, de consciências, de liberdades, que conceitos de discernimento, humanidade ou de dignidade podem resultar, quando só nos resta a opção de obedecer, pedir auxílio e esperar? É claro que essa falsa segurança – essas tutelas espirituais ou materiais, idealizadas para apaziguar nossos medos, receios e anseios, frente ao que desconhecemos – pouco poder tem frente aos nossos riscos e incertezas viscerais. Chega a hora em que a hesitação, as decisões, os contratempos entre nossos erros e acertos, nos lembram de nossa proximidade com os nossos ancestrais. Desesperados, abandonaremos nossa animalidade na vã tentativa de demonstrarmos nosso sucesso, nosso status – como se apenas assim conseguiremos o mérito necessário para melhor nos venerarmos?!

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