Página
aberta. Esperando pela partida. Cabeça em transe. Antevendo a
oportunidade. De transitar por outros cantos. Desbravando novos ares.
Imaginando. Intuindo. Imprimindo algumas representações
particulares. Página aberta. Para que as novidades sejam concebidas
e demonstradas. Com imagens. Com palavras. Com objetos e objetivos
que ultrapassem a simples utilidade. Através de formas que prezem
pela liberdade. De interpretação. De comunicação. De diálogo.
Com ou sem familiaridade. Com as técnicas ou as linguagens
especializadas. Página aberta. Desconfigurada. Enquanto vamos
desconstruindo os padrões. Agindo com espontaneidade. Dando corpo e
sentimentos às personagens que vão sendo criadas ao mesmo tempo em
que a obra vai caminhando rumo ao inesperado. Página aberta.
Sentidos atentos. Incomodados. Até chegarem à síntese entre o
vivido e o pensado. Noite adentro. Dia afora. Conectados à
necessidade e à vontade. De escancararem os limites da cultura. Da
vida humana com suas tradições e rupturas interligadas. Diminuídas
exaustivamente pelos interesses dos mercadores. Que querem que a arte
seja apenas aquilo que vende em demasia e não estimula outras tantas
potencialidades. Página aberta. Referendando o improviso.
Convidando-nos à interatividade.
27 de janeiro de 2016
Inutilidade
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04- TEXTOS
Expatriado
Ao observar um pouco do que se passava na prefeitura de sua cidade, João
viu como ficavam mais claros os objetivos da grande maioria de nossos
governantes (preferem serem chamados de gestores públicos, assim
toda a exploração assume um caráter de legitimidade). Sua cidade,
em pleno ano de 2015, não dispunha sequer de saneamento básico! Nem
saúde, nem educação, nem asfalto, nem lazer decentes para a
comunidade... Em compensação, acumulavam-se as dívidas advindas
dos assistencialismos praticados pelo prefeito e os vereadores e
vereadoras que só visavam elevar a sua popularidade. Quanto do valor
arrecadado não ficava comprometido para manter esse curral
eleitoral? Nem o básico!!! Por quê??? - indagou-se. Não, nós não
partimos e – se dependermos desses caras – nunca alcançaremos
uma condição de igualdade social! Muitos dos nossos juízes,
promotores, advogados estão aí simplesmente para passarem a
impressão de que fazem algo mais do que defender os interesses que
os mantêm em poltronas cada vez mais confortáveis... Então, nossos
impostos são recolhidos para sustentar esses canalhas, enquanto nós
não podemos nem sequer comer decentemente, viver com alguma
dignidade?! Se é assim numa cidade pequena como a nossa, imagino que
tudo isso se repita em todos os estados, com toda a corja de
sanguessugas colecionando patrimônios, achando que quando assumem
algum cargo, automaticamente, fica assegurado o futuro apenas para si
e os seus familiares! Secretárias, assessores, salários abusivos,
planos de saúde para funcionários fantasmas, viagens para todos os
lados com aviões fretados em nome de necessidades tão
particulares... É demais! Não posso mais continuar contribuindo com
estas atrocidades! Cada regalia, toda corrupção, qualquer
impunidade, mata alguém numa fila ou leito de hospital. Retira o
direito de uma criança ser matriculada. Permanecer e continuar a se
educar. Joga um ou uma aposentada, que tanto contribuiu, na sarjeta
da miserabilidade. Barra quem quer cultivar o seu pedaço de terra
para que os latifúndios permaneçam intocados. Impede que as
desigualdades diminuam e alimenta essa vontade suicida de sair sempre
com alguma vantagem que prolifera por todos os grupos de nossa
sociedade... Já chega! - indignou-se. Chegou a hora de encostarmos
todos esses vermes na parede e assumirmos as rédeas dessa carruagem
desgovernada. Só o povo pode mudar a sua realidade. Uma vida melhor
não vai vir de nenhum projeto governamental. Pois o que eles fazem é
distribuir apenas as migalhas, enquanto usufruem sozinhos de todas as
riquezas que nós labutamos tanto para conquistá-las. Por mais que
insistam, acredito que ninguém, além da gente mesmo, seja capaz de
se representar. Precisamos abrir nossos olhos, perceber que essa
calamidade não começou agora, mas vem sendo implantada desde os
tempos da nossa colonização, quando as terras que foram retiradas
na marra das populações locais acabaram sendo doadas a algumas
famílias para aqui reinarem. Resgatemos o que nos foi tirado! Não
daremos nosso voto de concordância nunca mais. Renegaremos esta
ideia de que existe alguma pátria ou nação que busca resolver os
conflitos estruturais, quando, na verdade, o que existe é um monte
de gente vivendo descontente para que alguns outros possam sorrir com
desdém e exaltar o dom de fazer caridade. Em épocas estratégicas.
Com os recursos que nos foram roubados. Não basta ir para as ruas,
em protestos combinados, que requisitam com antecedência a
“segurança” dos cães de guarda. É preciso fazer com que o que
é chamado de público no papel seja público também na realidade!
Caso contrário, qual seria a finalidade de instituirmos governos,
senão para garantirmos que todos
zelem pelo bem da coletividade?! Qual o propósito de pagarmos para
nos representarem, se também precisamos pagar para que esses
representantes sejam constantemente fiscalizados por seus cúmplices
nesta mesma jornada?! Por que não enxugarmos esses gastos e
aplicarmos todos os
recursos em prol do que é nosso ao invés de aceitarmos que outros o
façam – partindo do princípio de que sempre vai haver desvio,
abuso do poder conferido, corrupção e impunidade?! Só seremos
capazes de mudar quando exercermos nosso poder de fato. Não elegendo
ninguém, ocupando todos os órgãos de exercício da tirania,
acabando com os privilégios e os privilegiados. Redistribuindo as
riquezas e também as responsabilidades.
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