– Alô, Thiago.
– …
– Thiago?
– Oi. Quem está falando?
– É... Pode falar? Não está ocupado?
– Não... Pode falar. Como vai?
– Estou bem. Viu, eu quero falar com a sua avó. Será que você pode conseguir isso pra mim, por favor?
– Ah?!
– Sim, com a D. Teruko?
– Olha, ela faleceu há algum tempo...
– Nossa, desculpa, meus pêsames!
– Tudo bem. Ela viveu uma vida honesta, íntegra... Sou muito grato a ela pelo que fez e me ensinou.
– Poxa, queria agradecer o que ela fez por mim também, sem sequer perceber.
– Como?!
– Então, quando você me levou lá para conhecê-la, ela me disse algo sobre elegância que nunca, nunca mais esqueci, apesar de só agora vir a entender o que ela estava dizendo naquela época.
– Lembro dela lhe ensinando a dançar valsa… Descalça na sala, te chamando de bem...
– Sim, foi nesse dia. Logo que você saiu para ir ao banheiro ou para fumar… Ela me disse algo sobre graça, elegância. Você sabe, ela não se referia aos modismos, falava do jeito de se comportar, de conectar os valores às atitudes… Agir com coerência, falar menos e ser, não existir, não reagir toda vez que algo lhe diz que tem de se recompensar...
– Sério que vocês conversaram sobre tudo isso enquanto eu fumava 1 cigarro lá fora?!
– Foi algo inesquecível. Desde então isso acaba vindo sempre aos meus pensamentos e esses dias, lendo um livro, Beleza e Tristeza, tive uma epifania e acredito que entendo o que ela me dizia naquela ocasião… Você está tão quieto, está aí?
– Sim, estou aqui… ouvindo.
– Então, ela me falou da paz, sensação de fazer o que pensa, fugir das recompensas imediatas, saber peneirar os impulsos, transformando a maioria deles em aliados, não em motivos de arrependimento, você sabe… mesmo aqueles que dizem que não se arrependem, sabem que seus impulsos e erros condicionam sua vida… Daí que se perdem de si mesmos e tudo fazem, aceitam qualquer validação, como se pedissem por favor, me notem, façam com que eu exista!
– Eu sei disso. Alguns vivem nessa negação, não ouvem ou enfrentam seus medos, fogem e talvez por isso não se aprofundam em si mesmos.
– Tua vó me deu essa dica e eu sou muito grata a ela. Foi bom conversar com você. Um grande abraço. Até mais.
– Até mais. Foi legal você dizer isso. Uma das últimas imagens que guardo aqui comigo é dela meditando, pernas cruzadas, no meio da cama. Aquela cama com o cortinado do quarto dela.
– Sim, eu me lembro. Obrigado. Tchau.
– Tchau.
