Páginas

22 de maio de 2017

interação

quem sente o vento como um convite
para dançar no ritmo de outra canção?
quem observa a chuva como uma aliada
para a sobrevivência e a mútua nutrição?
quem saudou o dia, a cama, a comida
o passeio de mãos dadas
a nuvem com forma de criança que passou?
quem esqueceu do tempo e do espaço
em prol de um poema em gestação?
quem aceitou o verso que lhe foi entregue
pelas ondas que formavam a arrebentação?
quem me ensinou
me mostrou que estava errado
ao achar que lembrar de você
era uma vã constatação?

20 de maio de 2017

crianças

começamos pela ação
humanos na forma e nos potenciais
animais movidos pela necessidade
desenvolvemos a afetividade
com e por aqueles que também são frágeis
atendendo nossos pedidos
por comida, higiene, segurança e dignidade
continuamos agindo
nos constituindo
em nossos tecidos, metabolismos
ligados às condições de nossa própria complexidade
nossos sentidos
nossas transformações
nada sem atalhos
sem bifurcações
desvios oscilações
ambivalências
fluxos e refluxos
na assimilação
imitação
de gestos
comportamentos
imagens palavras
impressões e expressões
que vamos maturando
e manifestando aos poucos
conforme nossa estrutura e o meio
vão nos abrindo outras possibilidades.

reciprocidade

desfrutar da solidão necessária
sentindo seu cheiro que vem do quarto ao lado
lendo, escrevendo, compondo
fazendo ou não fazendo nada
desfrutando também da sua busca pelo paradoxo
entre autonomia e coexistência
interdependência individualizada
vivendo a vida há muito desejada
trocando
compartilhando o que guardávamos
porque faltava a confiança
a oposição destemida
destreinada
com quem descer novamente às galerias inexploradas
subir às alturas inimagináveis
ficar integrado à terra
fugindo da cumplicidade
do medo da morte, da vida
da obsessão pela comparação
da escravidão por um afeto deveras utilitário
que conduz tantas pessoas vitimizadas
pois não travaram a principal luta a ser travada
saber-se só
em meio a uma multidão de sugestões convencionalizadas.

12 de maio de 2017

sentimento

traga-o de dentro
sem arrependimento
traga-o arranque-o
arraste-o para perto

independente da máscara do momento
não o deixe só em seu entorpecimento
amarre-o desamarre-se desconvença-se
conecte-o ao nós que agora temos.

versões

observar
perceber
deixar maturar

escrever
tentar reviver
relembrar 

acrescentar
o que talvez possa faltar
ao nosso outro jeito de encarar.

4 de maio de 2017

filha

minhas palavras não bastam
se atrapalham
hesitam
necessitam de outros gestos
beijos, abraços, carinhos
quando quero expressar o que sinto ao ver você
brincando
falando
pulando
cantando e tocando suas canções preferidas

nós aqui
   convivendo
      construíndo.